Leitores & Escritores
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

As Crônicas de gelo e fogo - Livro um- A guerra dos tronos - Jon (6)

Ir para baixo

As Crônicas de gelo e fogo - Livro um- A guerra dos tronos - Jon (6) Empty As Crônicas de gelo e fogo - Livro um- A guerra dos tronos - Jon (6)

Mensagem por Humberto Lopes Sex Out 05, 2012 6:20 am

Jon

Havia momentos - não muitos, mas alguns - em que Jon
Snow ficava feliz por ser um bastardo. Enquanto enchia uma
vez mais sua taça de vinho de um jarro que ia passando, deuse
conta de que aquele poderia ser um desses momentos.
Voltou a se instalar no seu lugar ao banco, entre os escudeiros
mais novos, e bebeu. O sabor doce e frutado do vinho estival
encheu-lhe a boca e trouxe-lhe um sorriso aos lábios.
O ar no Salão Grande de Winterfell estava nevoento de fumo
e pesado com os cheiros de carne assada e pão acabado de
cozer. As grandes paredes de pedra do salão estavam
adornadas com estandartes. Bianco, dourado, carmesim: o
lobo gigante de Stark, o veado coroado de Baratheon, o leão
de Lannister. Um cantor tocava harpa e recitava uma balada,
mas nesta ponta do salão quase não se conseguia ouvir sua
voz acima do rugir do fogo, do clangor de pratos e taças de
peltre, e do burburinho grave de uma centena de conversas
ébrias.
Estava-se na quarta hora do banquete de boas-vindas
oferecido ao rei. Os irmãos e irmãs de Jon tinham sido postos
junto dos filhos do rei, por baixo da plataforma elevada onde
o Senhor e a Senhora Stark recebiam o rei e a rainha. Em
honra da ocasião, o senhor seu pai iria sem dúvida permitir a
cada filho um copo de vinho, mas não mais que isso. Ali, nos
bancos, não havia ninguém para impedir que Jon bebesse
tanto quanto sua sede exigisse.
E estava descobrindo que tinha uma sede de homem, para a
áspera satisfação dos jovens que o rodeavam e que o
incentivavam a cada vez que esvaziava um copo. Eram boa
companhia, e Jon apreciava as histórias que contavam,
histórias de batalha, de cama e de caça. Tinha certeza de que
os companheiros eram mais divertidos do que a prole do rei.
Saciou sua curiosidade a respeito dos visitantes quando estes
entraram. A procissão passara a não mais de um pé do local
que lhe fora atribuído no banco, e Jon deitara um forte e
demorado olhar em todos eles.
O senhor seu pai viera à frente, acompanhando a rainha. Ela
era tão bela como os homens diziam. Uma tiara cravejada de
jóias brilhava entre os seus longos cabelos dourados, e as
esmeraldas que continha combinavam perfeitamente com o
verde de seus olhos. O pai de Jon a ajudou a subir os degraus
que levavam ao tablado e indicou-lhe o caminho até seu
lugar, mas a rainha nunca chegou sequer a olhar para ele.
Mesmo com catorze anos, Jon era capaz de ver para lá do seu
sorriso.
A seguir veio o próprio Rei Robert, trazendo a Senhora Stark
pelo braço. O rei foi uma grande desilusão para Jon. O pai
falara dele com frequência: o inigualável Robert Baratheon,
demônio do Tridente, o mais feroz guerreiro do reino, um
gigante entre os príncipes. Jon viu apenas um homem gordo,
com o rosto vermelho sob a barba, transpirando através de
suas sedas. Caminhava como um homem meio embriagado.
Depois vieram os filhos. Primeiro o pequeno Rickon,
dominando a longa caminhada com toda a dignidade que um
rapazinho de três anos era capaz de reunir. Jon teve de
incentivá-lo a seguir quando parou ao seu lado. Logo atrás
veio Robb, vestido de lã cinzenta ornamentada de branco, as
cores dos Stark. Trazia pelo braço a Princesa Myrcella. Era
uma pequena menina, com quase oito anos, o cabelo feito
uma cascata de caracóis dourados sob uma rede cravejada de
jóias, on reparou nos olhares acanhados que ela dirigia a
Robb enquanto passavam por entre as mesas e no modo
tímido como lhe sorria. Decidiu que a menina era insípida.
Robb nem tinha o bom--senso de notar quão estúpida ela era,
e sorria como um tolo.
Suas meias-irmãs acompanhavam os príncipes reais. Arya
tinha como par o roliço jovem iommen, cujos cabelos louroesbranquiçados
eram mais longos que os dela. Sansa, dois
anos mais velha, puxava o príncipe real, Joffrey Baratheon.
Ele tinha doze anos, menos que Jon ou _-\obb, mas era mais
alto que qualquer um deles, para sua grande frustração.
Príncipe Joffrey tinha os cabelos da irmã e os profundos olhos
verdes da mãe. Uma espessa mata de caracóis louros caía para
lá de sua gargantilha dourada e da alta gola de veludo. Sansa
parecia radiante enquanto caminhava a seu lado, mas Jon
não gostou dos lábios mal-humorados de Joffrey nem do
modo aborrecido e desdenhoso com que avaliou o Salão
Grande de Winterfell.
Interessou-lhe mais o par que veio a seguir: os irmãos da
rainha, os Lannister de Rochedo Casterly. O Leão e o
Duende; não havia forma de confundi-los. Sor Jaime
Lannister era gêmeo oa Rainha Cersei; alto e dourado, com
flamejantes olhos verdes e um sorriso que cortava como uma
faca. Trajava seda carmesim, botas negras de cano alto, um
manto de cetim negro. No peito da túnica, o leão de sua Casa
estava bordado em fio de ouro, rugindo em desafio.
Chamavam-lhe Leão de Lannister na sua presença e
"Regicida" às suas costas.
Jon sentiu dificuldade em desviar o olhar do homem. É este o
aspecto que um rei deve ter, pensou consigo mesmo quando o
príncipe passou por ele.
Então viu o outro, bamboleando ao lado do irmão, meio
escondido pelo seu corpo. Tyrion Lannister, o mais novo dos
filhos de Lorde Tywin e de longe o mais feio. Tudo o que os
deuses tinham dado a Cersei e Jaime negaram a Tyrion. Era
um anão, com metade da altura do irmão, .utando para
acompanhar seu passo sobre pernas atrofiadas. A cabeça era
grande demais para o corpo, com uma cara animalesca
esborrachada por baixo de uma sobrancelha saliente. Um
olho verde e um negro espreitavam sob uma cascata de
cabelos corredios e tão louros que pareciam brancos. Jon o
observou fascinado.
O último dos grandes senhores a entrar foi seu tio, Benjen
Stark, da Patrulha da Noite, e o protegido do pai, o jovem
Theon Greyjoy. Benjen dirigiu a Jon um sorriso caloroso
quando passou por ele. Theon o ignorou por completo, mas
nisso nada havia de novo. Depois de todos se terem sentado,
foram feitos brindes, dados e devolvidos agradecimentos e,
então, deu-se início ao festim.
Jon começara a beber nesse momento e ainda não parara.
Algo roçou sua perna sob a mesa. Ele viu olhos vermelhos que
o encaravam.
- Outra vez com fome? - perguntou. Ainda havia meia galinha
com mel no centro da mesa. Jon esticou o braço para arrancar
uma perna, mas depois teve uma ideia melhor. Espetou uma
faca na ave inteira e a deixou escorregar para o chão por entre
as pernas. Fantasma a atacou em silêncio selvagem. Não
tinham permitido aos irmãos e irmãs que trouxessem seus
lobos para o banquete, mas naquela ponta do salão havia
mais rafeiros do que Jon conseguia contar, e ninguém dissera
uma palavra sobre seu cachorro. Disse a si próprio que
também nisto era afortunado.
Seus olhos ardiam. Jon os esfregou furiosamente,
amaldiçoando o fumo. Engoliu outro trago de vinho e
observou seu lobo gigante devorando a galinha.
Cães moviam-se por entre as mesas, perseguindo as criadas.
Um deles, uma cadela preta vira--lata com longos olhos
amarelos, detectou o cheiro da galinha. Parou e meteu-se por
baixo do banco para obter uma parte. Jon observou o
confronto. A cadela soltou uma rosnadela profunda e
aproximou-se. Fantasma ergueu os olhos quentes e rubros,
em silêncio, e se fixou nela. A cadela soltou um desafio irado.
Tinha três vezes seu tamanho, mas Fantasma não se afastou.
Ergueu-se sobre ela e abriu a boca, mostrando as presas. A
cadela ficou tensa, ladrou uma vez mais, e depois pensou
melhor a respeito da luta. Virou-se e escapuliu, com um
último latido desafiador para salvar o orgulho. Fantasma
voltou a prestar atenção à refeição,
Jon sorriu e esticou o braço para lhe acariciar o pelo branco.
O lobo gigante olhou para ele, deu-lhe uma dentadinha gentil
na mão e novamente pôs-se a comer.
- Este é um dos lobos gigantes de que tanto ouvi falar? -
perguntou perto dele uma voz familiar.
Jon ergueu seus olhos, feliz, quando tio Ben lhe pôs a mão na
cabeça e desalinhou seus cabelos tanto quanto ele fizera com
os pelos do lobo.
- Sim - disse. - Chama-se Fantasma.
Um dos escudeiros interrompeu a história obscena que estava
contando para abrir lugar na mesa para o irmão de seu
senhor. Benjen Stark escarranchou-se no banco com pernas
longas e tirou a taça de vinho da mão de Jon.
- Vinho de verão - disse depois de provar. - Não há nada tão
doce. Quantas taças já bebeu, Jon?
Jon sorriu.
Ben Stark soltou uma gargalhada.
- Tal como eu temia. Ah, bem, Acho que era mais novo do que
você da primeira vez que fiquei verdadeira e sinceramente
bêbado - surrupiou de uma travessa próxima uma cebola
assada que pingava molho de carne e mordeu-a. A cebola
estalou.
O tio de Jon tinha feições angulosas e era descarnado como
um penhasco, mas havia sempre uma sugestão de riso em seus
olhos azul-acinzentados. Vestia-se de negro, como era próprio
de um homem da Patrulha da Noite. Hoje trajava um rico
veludo negro, com grandes botas de couro e um cinto largo
com fivela de prata. Uma pesada corrente de prata curvavase
em torno do seu pescoço. Benjen observou Fantasma,
divertido, enquanto comia a cebola.
- Um lobo muito sossegado - observou.
- Não é como os outros - disse Jon. - Nunca solta um som. Foi
por isso que o chamei Fantasma. Por isso e porque é branco.
Os outros são todos escuros, cinzentos ou pretos.
- Ainda há lobos gigantes para lá da Muralha. Ouvimo-los nas
nossas patrulhas - Benjen Stark olhou longamente para Jon. -
Não costuma comer à mesa dos seus irmãos?
- Na maior parte das ocasiões - respondeu Jon em voz
monocórdia. - Mas hoje a Senhora Stark pensou que poderia
ser um insulto para a família real se um bastardo se sentasse
entre eles.
- Estou vendo - o tio olhou por sobre o ombro para a mesa
elevada na outra ponta do salão. - Meu irmão não parece
muito festivo hoje.
Jon também notara. Um bastardo tinha de aprender a
reparar nas coisas, a ler a verdade que as pessoas escondiam
por trás dos olhos. Seu pai observava todas as cortesias, mas
havia nele uma rigidez que Jon raramente vira antes. Pouco
falava, olhando o salão com olhos cobertos, sem nada ver. A
dois lugares de distância, o rei estivera toda a noite bebendo
muito. O rosto largo estava corado por trás da barba negra.
Fizera muitos brindes, rira sonoramente com todas as
brincadeiras e atacara todos os pratos como um faminto, mas,
ao seu lado, a rainha parecia tão fria como uma escultura de
gelo.
- A rainha também está zangada - disse Jon ao tio com uma
voz calma e baixa. - Meu pai levou o rei às criptas esta tarde.
A rainha não queria que ele fosse.
Benjen deitou ajon um olhar cauteloso e avaliador,
- Não deixa passar muitas coisas, não é, Jon? Podíamos fazer
uso de um homem como você na Muralha.
Jon inchou de orgulho.
- Robb é um lanceiro mais forte que eu, mas sou melhor
espadachim, e Hullen diz que me sento num cavalo tão bem
como qualquer outro no castelo.
- Notáveis realizações.
- Leve-me consigo quando regressar à Muralha - disse Jon
com súbita precipitação. - Meu pai me dará licença para ir se
lhe pedir, eu sei que dará.
Tio Benjen estudou seu rosto com cuidado.
- A Muralha é um lugar duro para um rapaz, Jon.
- Sou quase um homem feito - Jon protestou. - Vou fazer
quinze anos no próximo dia do meu nome, e Meistre Luwin
diz que os bastardos crescem mais depressa que as outras
crianças.
- Isso é verdade - disse Benjen, retorcendo a boca para baixo.
Tomou a taça de Jon, encheu-a de um jarro que encontrou ali
perto e bebeu um longo gole.
- Daeren Targaryen tinha só quinze anos quando conquistou
Dorne - disse Jon. O Jovem Dragão era um dos seus heróis.
- Uma conquista que durou um verão - o tio ressaltou. - Seu
Rei Rapaz perdeu dez mil homens na conquista do lugar e
outros cinquenta ao tentar mantê-lo. Alguém devia ter-lhe
dito que a guerra não é um jogo - bebeu outro gole de vinho. -
Além disso - disse, limpando a boca -, Daeren Targaryen
tinha só dezoito anos quando morreu. Ou será que se
esqueceu dessa parte?
- Não me esqueço de nada - vangloriou-se Jon. O vinho o
estava deixando ousado. Tentou sentar-se muito ereto para
parecer mais alto. - Quero servir na Patrulha da Noite, tio.
Tinha refletido sobre o assunto longa e duramente, deitado na
cama à noite enquanto os irmãos dormiam à sua volta. Robb
um dia herdaria Winterfell, comandaria grandes exércitos
enquanto Protetor do Norte. Bran e Rickon seriam vassalos
de Robb e governariam castros em seu nome. As irmãs, Arya
e Sansa, se casariam com os herdeiros de outras grandes Casas
e iriam para o sul como senhoras dos seus próprios castelos.
Mas a que lugar podia um bastardo aspirar?
- Não sabe o que está pedindo, Jon. A Patrulha da Noite é
uma irmandade juramentada. Não temos famílias. Nenhum
de nós será algum dia pai. Somos casados com o dever. Nossa
amante é a honra.
- Um bastardo também pode ter honra - disse Jon. - Estou
pronto para prestar o juramento.
- Você é um rapaz de catorze anos - disse Benjen. - Não é um
homem. Ainda não. Até ter conhecido uma mulher, não pode
compreender o que estará deixando para trás.
- Isto não me interessa! - Jon respondeu ardentemente.
- Mas poderia se interessar se soubesse a que me refiro - disse
Benjen. - Se soubesse o que o juramento lhe custará, estaria
menos ansioso por pagar o preço, filho.
Jon sentiu a ira crescer no peito.
- Não sou seu filho! Benjen Stark pôs-se em pé.
- Maior é a pena - pôs uma mão no ombro de Jon. - Venha ter
comigo depois de ter sido pai de alguns bastardos seus e
veremos então como se sente.
Jon estremeceu.
- Nunca serei pai de um bastardo - disse com cuidado. -
Nunca! - cuspiu a palavra como se fosse veneno.
De súbito, percebeu que a mesa caíra em silêncio e que todos
o estavam olhando. Sentiu que as lágrimas começavam a
jorrar por trás de seus olhos e pôs-se em pé.
- Devo me retirar - disse, com o resto de sua dignidade. Virouse
e fugiu antes que o vissem chorar. Devia ter bebido mais
vinho do que se dera conta. Seus pés emaranhavam-se
debaixo do corpo quando tentou sair do salão e cambaleou de
lado, esbarrando numa criada, atirando ao chão um jarro de
vinho com especiarias. Gargalhadas trovejaram por todo o
lado à sua volta, e Jon sentiu lágrimas quentes nas
bochechas. Alguém tentou equilibrá-lo, mas ele saiu com
violência daquelas mãos e correu meio cego para a porta.
Fantasma o seguiu de perto para a noite.
O pátio estava silencioso e vazio. Uma sentinela solitária
estava bem no alto, nas ameias da muralha interior, bem
enrolada no manto contra o frio. O homem parecia aborrecido
e infeliz ao apertar-se ali, sozinho, mas Jon teria rapidamente
trocado de lugar com ele. Além da sentinela, o castelo estava
escuro e deserto. Jon vira certa vez um castro abandonado,
um lugar lúgubre onde nada se movia além do vento e as
pedras mantinham o silêncio acerca de quem ali vivera. Hoje,
Winterfell lembrava-lhe esse dia.
Os sons de música e cantos derramavam-se pelas janelas
abertas em suas costas. Eram as últimas coisas que Jon
queria ouvir. Limpou as lágrimas na manga da camisa,
furioso por tê-las deixado fluir, e virou-se para ir embora.
- Rapaz - chamou uma voz.
Jon voltou-se.
Tyrion Lannister estava sentado na saliência por cima da
porta do grande salão, assemelhando-se por completo a uma
gárgula. O anão sorriu-lhe.
- Esse animal é um lobo?
- Um lobo gigante - disse Jon. - Chama-se Fantasma - pôs-se
a olhar o homenzinho, de súbito esquecido do
desapontamento. - O que faz aí? Por que não está no
banquete?
- Está demasiado quente, demasiado ruidoso e bebi
demasiado vinho - disse o anão. -Aprendi há muito que se
considera má-educação vomitar por cima do irmão. Posso ver
o seu lobo mais de perto?
Jon hesitou, mas depois concordou devagar.
- Consegue descer daí ou devo ir buscar uma escada?
- Ah, que se dane - disse o homenzinho. Atirou-se da saliência
para o ar vazio. Jon sobressaltou-se, depois viu com um
temor respeitoso como Tyrion Lannister rodopiou numa bola
apertada, aterrissou ligeiro sobre as mãos e depois volteou
para trás, caindo em pé.
Fantasma afastou-se dele com receio.
O anão sacudiu o pó e soltou uma gargalhada.
- Creio que assustei seu lobo. Minhas desculpas.
- Não está assustado - disse Jon. Ajoelhou-se e chamou seu
lobo. - Fantasma, vem cá. Anda. Isso mesmo.
A cria de lobo aproximou-se e encostou o focinho no rosto de
Jon, mas manteve um olho cuidadoso em Tyrion Lannister, e,
quando o anão estendeu a mão para lhe fazer uma festa,
afastou-se e mostrou os caninos num rosnado silencioso.
- É tímido, não é? - observou Lannister.
- Senta, Fantasma - ordenou Jon. - Isso mesmo. Quieto -
ergueu os olhos para o anão. - Pode tocá-lo agora. Ele não se
mexerá até que eu lhe diga para fazê-lo. Eu o tenho treinado.
- Compreendo - disse o Lannister. Esfregou o pelo branco
como a neve entre as orelhas de Fantasma e disse: - Bonito
lobo.
- Se eu não estivesse aqui, ele rasgaria sua garganta - disse
Jon. Ainda não era bem verdade, mas viria a ser.
- Nesse caso, é melhor que fique por perto - disse o anão.
Inclinou a cabeça grande demais rara um lado e observou Jon
com seus olhos desiguais. - Chamo-me Tyrion Lannister.
- Eu sei - disse Jon. Ergueu-se. Em pé, era mais alto que o
anão. Mas isto o fazia sentir-se estranho.
- E você é o bastardo de Ned Stark, não é?
Jon sentiu-se atravessado por uma sensação de frio. Apertou
os lábios e não disse nada.
- Eu o ofendi? - disse Lannister. - Perdão. Os anões não têm
de ter tato. Gerações de bobos Tiriegados conquistaram para
mim o direito de me vestir mal e de dizer qualquer maldita
coisa que me venha à cabeça - ele sorriu. - Mas você é o
bastardo.
-Lorde Eddard Stark é meu pai - admitiu Jon rigidamente.
Lannister estudou-lhe o rosto.
- Sim - disse. - Consigo ver. Você tem em si mais do Norte que
seus irmãos.
- Meios-irmãos - Jon corrigiu. O comentário do anão o
agradara, mas tentou não mostrar.
- Deixe-me lhe dar um conselho, bastardo - disse Lannister. -
Nunca se esqueça de quem é, porque é certo que o mundo não
se lembrará. Faça disso sua força. Assim, não poderá ser
nunca a sua fraqueza. Arme-se com esta lembrança, e ela
nunca poderá ser usada para magoá-lo.
Jon não estava com disposição de ouvir conselhos de
ninguém.
- Que sabe você de ser um bastardo?
- Todos os anões são bastardos aos olhos dos pais.
- Você é filho legítimo de Lannister.
- Ah, sou? - respondeu o anão, sarcástico. - Vá dizer isso ao
senhor meu pai. Minha mãe morreu ao dar-me à luz, e ele
nunca teve certeza.
- Nem sequer sei quem foi minha mãe - disse Jon.
- Uma mulher qualquer, sem dúvida. A maior parte delas é
isso - dirigiu a Jon um sorriso tristonho. - Lembre-se disto,
rapaz. Todos os anões serão bastardos, mas nem todos os
bastardos precisam ser anões - e, com aquelas palavras, virou
as costas e regressou vagarosamente ao banquete, assobiando
uma canção. Quando abriu a porta, a luz vinda de dentro
atirou sua sombra bem definida pelo pátio afora e, só por um
momento, Tyrion Lannister ergueu-se alto como um rei.
Humberto Lopes
Humberto Lopes
Membro

Mensagens : 46
Pontos : 129
Reputação : 0

https://leitoreseescritores.directorioforuns.com

Ir para o topo Ir para baixo

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos